Ao inaugurar a minha colaboração neste espaço de reflexão, faço-o homenageando um Amigo/poeta, e todos os que fazem no seu dia a dia, pessoal e profissionalmente, da aceitação da diferença uma causa.
O AVIÃO DE PAPEL
por:
José Filipe Rodrigues
O Zac é uma criança com onze anos de idade, com alguns atrasos no desenvolvimento. Ele foi diagnosticado com autismo, complicações relacionadas com Défices de Atenção e de Integração Sensorial. As suas história familiar e diferentes capacidades para desenvolver deixa-riam muitas pessoas desmotivadas, pessimistas, sem verem a luz ao fundo do túnel. Diferentes estratégias sensoriais, envolvendo os sete sentidos do corpo, feedback positivo, actividades de importância pes-soal, e uma equipa motivada, de terapeutas e professores do ensino normal e especial, transformaram o Zac numa criança feliz e autocon-fiante. Ele graduou no final do ano lectico, em diferentes áreas e aspectos, na sua escola do Ensino Básico.
O Zac pensa que “não é justo graduar no final do ano” e abandonar a escola do Ensino Básico. Na sua Escola, ele tem vários amigos, a sua professora favorita e os vários terapeutas que lhe proporcionam actividades de aprendizagem com alegria. A nova escola é um desafio que desencadeia medo e outros tipos de stress. Agora, eu sei, ele tem variadas capacidades e potencialidades para esculpir muitos projectos criativos e realísticos no seu futuro. O Zac só necessita de ser capaz de manter a mesma evolução e o mesmo ambiente construtivo nas aprendizagens para ser capaz de sair vencedor nas futuras batalhas que irá enfrentar.
Numa das minhas últimas intervenções, o Zac e eu utilizámos acti-vidades para aprender a usar vários passos, no desenvolvimento de uma cadeia contínua, para finalizar um objectivo. Ele, de há muito tempo, desejava aprender a fazer aviões de papel. As nossas apren-dizagens demoram cerca de três semanas. Quando finalizámos os nosso projectos, o Zac e eu fomos para o páteo da escola testar os nossos “supersónicos.” O meu avião, em vez de subir, desceu como um parafuso na água. O avião do Zac voou bem alto, quase até ao telhado da escola, depois desceu lentamente, passou em frente das janelas das salas de ensino especial, terapia ocupacional fisioterapia, arte e aterrou junto à porta do laboratório de ciências.
No dia em que o Zac completou o seu projecto, pela informação prestada pela sua mãe, levou o avião para casa, foi para ao parque voar com o seu “supersónico” e adormeceu com ele, na mesma almo-fada.
Em Maio, a equipa de terapeutas e professores do ensino normal e especial reuniu-se para definir novos ojectivos para o Zac. Ele, tenho quase a certeza, não mais necessitará dos meus serviços. Durante a reunião, a mãe agradeceu, muito em especial, a intervenção de um homem que proporcionou muita felicidade ao seu filho: “ele ensinou o meu filho a dobrar papel para construir aviões.” Eu apenas fui capaz de reportar os resultados das minhas terapias. O Zac é um dos muitos heróis que eu tenho nas escolas, capazes de me ensinarem muito, pro-fissionalmente e pessoalmente. Este sistema escolar, sem ser perfeito, dá possibiliades aos poetas para construirem “casas com cimento e tijolos verdadeiros, onde as pessoas vivem, na certeza de que as for-ças da gravidade dificilmente as farão ruir.”
O Zac não sabe ainda que, nas diferentes salas de aulas da sua escola, durante o ano lectivo que findou, ele voou muito mais alto do que o seu avião de papel.